sexta-feira, 25 de março de 2011

Poesia sobre a Encarnação do Verbo - S. João da Cruz



Já que o tempo era chegado em que fazer-se devia
o resgate da esposa que em duro jugo servia,
debaixo daquela lei que Moisés dado lhe havia,
o Pai com amor terno desta menria dizia:
- Já vês, Filho, que tua esposa à tua imagem feito havia,
e no que a ti se parece contigo coincidia;
mas é diferente na carne, que em teu simples ser não havia
pois nos amores perfeitos esta lei se requeria,
que se torne semelhante o amante a quem queria
porque a maior semelhança mais deleite caberia;
o qual, por certo, em tua esposa grandemente cresceria
se te visse semelhante na carne que possuía.

Minha vontade é a tua - o Filho lhe respondia -
e a glória que eu tenho é tua vontade ser minha;
e a mim me agrada, Pai, o que tua Alteza dizia,
porque por esta maneira tua bondade se veria;
ver-se-á teu gran poder, justiça e sabedoria;
irei a dizê-lo ao mundo e notícia lhe daria
de tua beleza e doçura, de tua soberania.

Irei buscar minha esposa e sobre mim tomaria
suas fadigas e dores em que tanto padecia;
e para que tenha vida, eu por ela morreria,
e tirando-a das profundas, a ti a devolveria.

Então chamou-se um arcanjo que S. Gabriel se dizia,
enviou-o a uma donzela que se chamava Maria,
de cujo consentimento o mistério dependia;
na qual a santa Trindade de carne ao Verbo vestia;
e embora dos três a obra somente num se fazia;
ficou o Verbo encarnado nas entranhas de Maria.
E o que então só tinha Pai, já Mãe também teria,
embora não como outra que de varão concebia,
porque das entranhas dela sua carne recebia;
pelo qual Filho de Deus e do Homem se dizia.

Quando foi chegado o tempo em que de nascer havia,
assim como o desposado, do seu tálamo saía
abraçado a sua esposa, que em seus braços a trazia;
ao qual a bendita Mãe em um presépio poria
entre pobres animais que então por ali havia.
Os homens davam cantares, os anjos a melodia,
festejando o desposório que entre aqueles dois havia.
Deus, porém, no presépio ali chorava e gemia;
eram jóias que a esposa ao desposório trazia;
e a Mãe se assombrava da troca que ali se via:
o pranto do homem em Deus, e no homem a alegria;
coisas que num e no outro tão diferente ser soía.

S. João da Cruz, Romantes Trinitários e Cristológicos, Toledo, Cárcere - 1578.

Nossa Senhora já era venerada desde o princípio do cristianismo


Em 1917 a Biblioteca John Ryland, de Manchester (Inglaterra), adquiriu no Egito um pequeno fragmento de papiro de 18 x 9,4 cm, que foi catalogado como Ryl. III, 470. Esse papiro apresenta uma oração mariana de grande importância tanto por seus dizeres como por sua data.


Examinaremos, a seguir, o conteúdo desse papiro e sua respectiva datação.

1. O conteúdo do papiro

O texto do pequeno papiro foi publicado em 1938, sem que se tivessem até então identificado os seus dizeres. Isto só foi feito no ano seguinte por F. Mercenier: este pesquisador verificou que se tratava da oração mariana conhecida e recitada ainda hoje com as palavras iniciais “Sob a vossa proteção” (Sub tuum praesidium… em latim). Embora o texto esteve incompleto e um tanto deteriorado pelas intempéries dos séculos, o sentido das palavras pode ser depreendido com clareza e segurança.

O texto, devidamente reconstituído, diz o seguinte:

Sob a tua proteção nos refugiamos.
santa Mãe de Deus!

Não desprezeis as nossas súplicas
em nossas dificuldades;

Mas livra-nos sempre de todos os perigos,
ó Virgem gloriosa e bendita.

A oração, redigida na primeira pessoa do plural, parece ser, por isto mesmo, pertinente ao uso da Liturgia. Comentemo-la, levando em conta as traduções da mesma existentes nas diversas tradições litúrgicas.

Uma das diferenças mais notáveis quando consideramos as versões recentes, está em que o fiel se refugiava “debaixo da misericórdia da Mãe de Deus”, ao passo que o texto latino diz praesidium (proteção). A expressão “sob a tua misericórdia” se encontra nas versões bizantina, copta e ambrosiana, ao passo que a Liturgia síria diz mais enfaticamente ainda: “sob o manto da tua misericórdia”. Por sua vez, o rito etíope diz: “sob a sombra de tuas asas”.

Alguns manuscritos latinos do século X traduzem literalmente: sub tuis visceribus, isto é, “em tuas entranhas nos refugiamos”. Nesta versão a misericórdia é comparada às entranhas de uma mãe, que em seu íntimo defende e abriga seu filho. Na verdade, o vocábulo grego eusplanchían significa boas entranhas. Como se vê, o texto original põe em relevo a confiança filial e a índole afetiva das relações entre o fiel e a Santa Mãe de Deus.

Theotókos. O título que comumente se traduz por “Mãe de Deus”, quer dizer, ao pé da letra: “Aquela que deu à luz Deus”, em latim Deipara. Este título professa que a pessoa que Maria deu à luz, é a pessoa do Filho de Deus ou a segunda Pessoa da Santíssima Trindade que quis assumir a natureza humana. Note-se que o vocábulo Theotóke é forma de vocativo; donde se depreende que a oração é dirigida à Santíssima Virgem, como expressão da grande antigüidade da devoção a Ela.

“Não deixes de considerar as nossas súplicas em nossas dificuldades”. Ao pé da letra, o fiel pede a Maria: “não afastes de nossas súplicas o teu olhar”. Basta, pois, que a Mãe de Deus esteja atenta às nossas súplicas para que estejamos seguros.

“Mas livrai-nos sempre de todos os perigos”. O texto atual desta prece menciona “os perigos”, ao passo que o papiro fala “do perigo”. “O” perigo, por antonomásia, eram as perseguições movidas pelo Império Romano contra os católicos. O historiador Eusébio de Cesaréia (+339), em sua História da Igreja, descreve a grande crueldade das perseguições havidas no Egito. Por conseguinte, pode-se crer que as pessoas que compuzeram tal oração em tempo de perseguição, recorriam à proteção e à misericórdia da Mãe de Deus.

“Ó Virgem gloriosa e bendita”! A exclamação final afirma a virgindade de Maria Santíssima. Além da virgindade, proclama a fidelidade de Maria Imaculada à vontade de Deus.

2. O problema da datação

Os estudiosos concordam entre si ao afirmar a grande antigüidade do texto, mas oscilam entre o século III e o século IV.
O Concílio Geral de Éfeso (431), declarou que os Santos Padres “não duvidaram chamar Theotókos a Santíssima Virgem” – o que não queria dizer que a Divindade começou a existir a partir de Maria, mas que Aquele que nasceu de Maria está unido hipostaticamente ao Verbo de Deus, desde o seio materno.

Já no século IV encontramos o grande santo Atanásio, bispo de Alexandria, por volta de 340, que atribuiu algumas vezes o título Theotókos a Maria Santíssima, tanto nos seus escritos contra os arianos quanto na sua obra A Vida de Santo Antão.

O antecessor de Santo Atanásio na sede alexandrina, Santo Alexandre, também usou tal título: numa de suas cartas afirma que o Verbo assumiu um corpo verdadeiro, e não aparente, de Maria, a Theotókos (PG 18, 568c).

Em 300 foi eleito Bispo de Alexandria Pedro I: ao referir-se ao mistério da Encarnação, chama duas vezes Maria Theotókos (PG 18, 517b). Nenhum deles, Pedro I, Santo Alexandre e Santo Atanásio, sentiram necessidade de justificar ou explicar o titulo, o que mostra que já era amplamente conhecido e aceito tranqüilamente pelos católicos em geral.

Entrando agora no século III, notemos que o mártir alexandrino Piero (+300) cognominado Orígenes Júnior, escreveu um tratado sobre a Theotókos (Peri tes Theotókou), como refere Filipe de Side.

Recuando mais ainda, registra-se uma observação do historiador Sócrates, o Escolástico, na sua História da Igreja: afirma que Orígenes de Alexandria (+254) no início do seu comentário sobre a epístola aos Romanos (redigido por volta de 243), elaborou ampla explicação do sentido que tem o termo Theotókos. Encontram-se ainda outras afirmações de Orígenes, em suas homilias sobre São Lucas, que sugerem tenha Orígenes, já na primeira metade do século III, chamado Maria Santíssima de Theotókos.

Este título ocorre outrossim na obra As Bênçãos dos Patriarcas, de Hipólito de Roma (+235), que pode datar de fins do século.

Como quer que seja, pode-se reconstituir a série de autores alexandrinos que aplicam à Nossa Senhora a designação de Theotókos: Orígenes, Piero, Pedro I, Alexandre e Atanásio; tal série vai de 243 a 340, evidenciando a antigüidade da invocação.

Estes dados de literatura patrística são assaz significativos para que se possa considerar essa oração como existindo já no século III. O que testemunha que a devoção à Nossa Senhora como Mãe de Deus vem desde o início do cristinianismo.


Fonte: www.adf.org.br

quinta-feira, 10 de março de 2011

Qual o segredo para não perder a esperança?


Esperança é algo que atinge todas as pessoas quer de uma forma ou de outra, pois todos nós esperamos algo para nossas vidas.
Esperamos um emprego, uma resposta, uma pessoa, um sentimento, uma reconciliação, paz interior, enfim tanta coisa.

Mas qual o segredo para não perder a esperança? Jesus nos ensina o caminho no evangelho de Lucas 18,1-8, através da parábola do juiz que se faz de rogado. Jesus está ensinando seus discípulos e inicia falando sobre a oração constante e não se deixar conduzir pelo desânimo.

A oração constante antes de tudo é um dom, uma graça. É movida pela fé e pelo amor, por que muitas vezes não temos forças diante das surpresas da vida que nos atinge.

Orar sem cessar em todas as circunstâncias já nos ensina São Paulo, é o alimento e a fonte da esperança.

A viúva da parábola pediu justiça ao juiz durante muito tempo e lhe foi negada. Mas insistentemente ela pedia justiça, o juiz que não temia a Deus, nem respeitava os homens acabou fazendo justiça para se livrar do aborrecimento que ela o causava.

Jesus chama a atenção dos discípulos dizendo: “Escutai bem o que diz este juiz sem justiça. E Deus não faria justiça aos seus eleitos que clamam dia e noite? Eu vo-lo digo: ele lhes fará justiça bem depressa”.

Na história do povo de Deus temos belos exemplos de esperança. Abraão, Isabel, Maria. Todos eles souberam pedir, confiar e esperar em Deus e olha que toda a espera não foi sem dor.
Abraão pediu, confiou e esperou na promessa de Deus, a súplica de Zacarias foi ouvida e Isabel que era estéril deu a luz a João Batista, o precursor de Jesus, Maria a mulher do Fiat não foi decepcionada diante da grandeza dos planos de Deus para sua vida.

Peçamos ao Senhor o dom da oração constante, da oração em todas as circunstâncias. Clamemos dia e noite as virtudes da fé, esperança e caridade. Pois o nosso Deus é o Deus do impossível.

Fonte: http://www.comshalom.org/